O Pró-Letramento é um programa de formação continuada que surgiu para atender os estados que apresentavam índices críticos de aprendizagem. Tamanho foi seu sucesso que se transformou em uma grande Política Pública Nacional, levando o professor a repensar sua prática:Ação-Reflexão-Ação, dentro da proposta de uma Pedagogia Culturalmente Sensível (Erickson,1987).
quinta-feira, 28 de abril de 2011
O vendedor de palavras
O vendedor de palavras
Fábio ReynolOuviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical". Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.
Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico — apenas R$ 0,50!".
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.
— O que o senhor está vendendo?
— Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.
— O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
— O senhor sabe o significado de histriônico?
— Não.
— Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
— Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
— O senhor tem dicionário em casa?
— Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
— O senhor estava indo à biblioteca?
— Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
— Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
— Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
— Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
— O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
— O senhor conhece Nélida Piñon?
— Não.
— É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
— E por que o senhor não vende livros?
— Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
— E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.
— A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
— O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
— Jactância.
— Pegar um livro velho...
— Alfarrábio.
— O senhor me interrompe!
— Profaço.
— Está me enrolando, não é?
— Tergiversando.
— Quanta lenga-lenga...
— Ambages.
— Ambages?
— Pode ser também evasivas.
— Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
— Pusilânime.
— O senhor é engraçadinho, não?
— Finalmente chegamos: histriônico!
— Adeus.
— Ei! Vai embora sem pagar?
— Tome seus cinqüenta centavos.
— São três reais e cinqüenta.
— Como é?
— Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
— Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
— É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
— Tem troco para cinco?
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Refletindo...
Não importa onde você parou...
Em que momento da vida você cansou...
O que importa é que sempre é possível recomeçar...
Recomeçar e dar uma chance a si mesmo...
(Carlos Dummond de Andrade)
terça-feira, 26 de abril de 2011
Refletindo...
Muitas coisas podem esperar.
A criança não pode. Hoje seus ossos estão sendo formados, seus sentidos estão se desenvolvendo. Para ela não podem dizer amanhã. “Seu nome é hoje”. Gabriela Mistral (1889-1957)
A criança não pode. Hoje seus ossos estão sendo formados, seus sentidos estão se desenvolvendo. Para ela não podem dizer amanhã. “Seu nome é hoje”. Gabriela Mistral (1889-1957)
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Momento Literário
Letra mágica
José Paulo Paes
Que pode fazer você
Para o elefante
Tão deselegante
Ficar elegante?
Ora, troque o F por G!
Mas se trocar, no RATO,
O R por G,
Transforma-o você
(veja que perigo!)
No seu pior inimigo:
O GATO
sábado, 23 de abril de 2011
Memórias 2 – Cine Pipoca (12 e 14/04)
Nosso segundo encontro foi emocionante!
Iniciamos com a dinâmica: “Um garotinho chamado amor” onde foi possível refletir sobre ludicidade, afetividade, movimento e intencionalidade didática. Em seguida assistimos ao Filme: “Como estrelas, na terra toda criança é especial” de Taare Zameen Par – um filme da produção de Bollywood. A emoção tomou conta de nosso encontro. Muitos sorrisos, muitas lágrimas e várias reflexões: dislexia, alfabetização, letramento, prática e práxis pedagógica, ação/reflexão/ação. Saímos do curso envolvidos pela vibração encantadora do filme.
O filme:
“Como Estrelas na Terra – Toda Criança é Especial” (Taare Zameen Par – Every Child is Special)
O filme conta a história de uma criança que demonstra ter sensibilidade artística. Ishaan Awasthi adora desenhar e demonstra ter muita criatividade. Ishaan Awasthi sofre de dislexia e custa a ser compreendida pela escola. Ishaan Awasthi, de nove anos, repetiu o terceiro período (no sistema educacional indiano), corre o risco de repetir de novo. Para ele as letras dançavam em sua frente. Ele apresenta dificuldades de acompanhar o processo de escolarização por não ser alfabetizado. Os professores não conseguem compreender as dificuldades de Ishaan. Ele é considerado indisciplinado. Seu pai acredita nessa hipótese, demonstrando insensibilidade. Os pais são convidados a comparecerem à escola para falar com a diretora. O pai, então, decide mandá-lo para um colégio interno. Ishaan passa por momentos difíceis, perde a vontade de aprender, de ser criança, de desenhar e de viver, pois a filosofia do internato é a de “disciplinar cavalos selvagens”. Mas tudo começa a mudar quando um professor de artes, substituto, chega ao colégio e lança um olhar sensível sobre a criança. E como professor pesquisador começa a investigar a vida de Ishaan. Descobre então as causas de suas dificuldades: Ishaan não era alfabetizado e o diagnóstico de dislexia fica claro. Assim o professor começa com seu olhar sensível um belo trabalho de resgate de Ishaan por meio de jogos e brincadeiras, resgatando sua auto-estima e sua capacidade de aprender. Ishaan transpõe a barreira da leitura: Ele aprende a ler! O professor então vai além, propõe um concurso de pintura em uma manhã de domingo: Ishaan é o vencedor! O filme nos mostra que Alfabetização é uma prática que precisa ser contextualizadas por meio de uma Pedagogia Culturalmente Sensível e que está entrelaçada aos demais eixos da Educação Básica: Letramento e Diversidade/ Educar e Cuidar. A postura pesquisadora do professor foi o ápice do resgate desta “História de Vida”: A História de Ishaan, “a pequena estrela que encontrou seu caminho”.
Registrando nossos momentos...
Alegria...
Emoção
Parceria...
Ludicidade...
Movimento...
Muita emoção...
E reflexão....
Memórias 1 – Apresentando o programa (05 e 07/04)
Nosso primeiro encontro presencial iniciou-se com a dinâmica de apresentação: “O amor de Deus é tão grande”, em que foi possível refletir sobre movimento, ludicidade, lateralidade, espacialidade e intencionalidade didática. Em seguida realizamos a confecção dos crachás ressaltando letra inicial e representando cada letra do nome com desenhos. Fizemos as apresentações dos nossos nomes falando sobre nossas histórias de vida, com a apresentação de nossos crachás. Para aquecimento trabalhamos com a música : “Desengonçada” de Bia Bedran, realizamos coreografias e refletimos sobre a importância do movimento e da ludicidade. Apresentei o Diário de Bordo em que retratamos nossas expectativas, com o título: “Jardim das expectativas”. Apresentei ainda o programa através de power point : “Apresentando o programa”, enfatizando o histórico do Pró-Letramento, a ementa do curso, os objetivos dos fascículo e uma pequena abordagem sobre a avaliação no programa. O Programa foi apresentando ressaltando a importância da formação continuada e a grande dimensão nacional tomada pelo Pró-Letramento como uma Política Pública de Formação Continuada e a relevância de garantirmos os eixos comuns sem perder de vista as diferenças locais. Nesse enfoque retratamos os eixos da Educação Básica: Educar/Cuidar e Letramento/Diversidade. Encerramos o dia com um momento literário apreciando o livro “Gente que mora dentro da gente” de Jonas Ribeiro. Em cada turma uma cursista levou o Diário de Bordo para casa.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Momento Literário
Convite
José Paulo Paes
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
Momento Literário
"E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho . Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa . Significa '"criar laços..."
- "Criar laços"?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidades de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo..."
Nos fascículos você encontrará...
Fascículo 1 Capacidades Lingüísticas: Alfabetização e Letramento;
O fascículo 1 apresenta vários conceitos que subsidiam o projeto do Pró-Letramento e que serão retomados nos fascículos seguintes. Os conceitos trabalhados são: Alfabetização, Letramento e Ensino de Língua. Podemos, ainda, refletir sobre as capacidades lingüísticas que precisam ser trabalhadas no processo de alfabetização.
Fascículo 2 : Alfabetização e Letramento: questões sobre a Avaliação:
O fascículo 2 nos leva a refletir sobre alfabetização e as questão da avaliação. Nos leva a refletir sobre tipos e funções da avaliação, bem como a importância da avaliação diagnóstica, avaliação processual e avaliação formativa. Encontramos ainda uma reflexão acerca dos instrumentos e procedimentos avaliativos.
Nos ANEXOS, encontramos sugestões de atividades a serem desenvolvidas em sala de aula, que tem com o objetivo entrelaçar teoria e prática, elencando as capacidades lingüísticas abordadas no fascículo 1.
Fascículo 3. A Organização do Tempo Pedagógico e o Planejamento do Ensino:
No fascículo 3 refletiremos sobre ensino e aprendizagem a partir do ponto de vista da organização do tempo escolar e do planejamento das atividades por parte do docente, através de relatos de experiências. Observamos conceitos como: rotina, monitoramento da aprendizagem, planejamento (aberto e fechado), espontaneísmo e improvisação, entrelaçadas às práticas de leitura e escrita.
Fascículo 4. Organização e Uso da Biblioteca Escolar e das Salas de Leitura:
No fascículo 4 refletiremos sobre a importância da Biblioteca escolar ou da Sala de Leitura, sua organização e possibilidades de uso. Analisam-se diferentes modalidades de leitura, a diversidade de suportes de textos e a fundamental mediação do(a) professor(a) ao longo do processo de letramento. Encontraremos ainda o conceito de leitura fruição. Por fim, o fascículo nos mostra a importância do Dicionário como aliado no dia-a-dia da sala de aula e como “patrimônio cultural da língua”.
Fascículo 5. Jogos e Brincadeiras no ensino da Língua Portuguesa:
No fascículo 5 veremos alguns exemplos de jogos e brincadeiras realizados por professoras de escolas públicas do estado de Pernambuco. Nesses relatos os alunos colocam em prática habilidades diretamente relacionadas à Língua Portuguesa: por meio de projetos e jogos, produção de um almanaque, em atividades lúdicas de leitura e escrita, de canto e expressão oral e de compreensão do sistema de escrita alfabética. Neste fascículo refletiremos sobre brincar e aprender. Afinal ... “Brincando também se aprende”.
Fascículo 6. O Livro Didático em Sala de Aula – algumas reflexões:
No fascículo 6 encontraremos reflexões acerca do uso do livro didático de Alfabetização e de Língua Portuguesa em sala de aula. Discutiremos o processo de modificação dos livros didáticos a partir da institucionalização do PNLD; o processo de escolha e as características dos novos livros didáticos; e o uso que os(as) professores(as) fazem do livro didático em suas práticas de ensino. Analisaremos o livro didático como mais um caminho para a construção da aprendizagem no maravilhosos mundo das práticas letradas.
Fascículo 7. Modos de Falar / Modos de Escrever
No fascículo 7 encontraremos reflexões acerca dos modos de falar e dos modos de escrever e a relação entre ambos com a aprendizagem da escrita. Analisa-se o trabalho de uma professora de escola pública do Distrito Federal, em atividades de leitura e produção de textos que leva em consideração a competência comunicativa dos alunos. Refletiremos também sobre a variáveis do Português Brasileiro, sobre os conceitos de relativismo cultural, competência comunicativa, competência lingüística, contínuos de urbanização, de letramento e de monitoração estilística. Refletiremos ainda sobre leitura , compreensão leitora: textos: ORAIS, NÃO-VERBAIS, ESCRITOS; a importância do contexto; os níveis que determinam o processo de compreensão leitora: Nível léxico (LÉXICO -leitura objetiva), Nível gramatical, (dimensão textual: coesão e coerência), Nível semântico (infratextual - informações implícitas, capacidade inferencial), a dimensão intertextual (intertexto).
Fascículo Complementar.
No fascículo Complementar encontraremos questões relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem da língua escrita no ciclo de alfabetização, partindo da História de Vida das crianças. O fascículo retoma e aprofunda questões sobre leitura e produção textual na formação lingüística do aluno e na sua constituição como sujeito-leitor e produtor de textos. O fascículo complementar representa uma retomada dos fascículos anteriores.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
As tarefas da Educação- Rubem Alves
Resumindo: são duas, apenas duas, as tarefas da educação. Como acho que as explicações conceituais são difíceis de aprender e fáceis de esquecer, eu caminho sempre pelo caminho dos poetas, que é o caminho das imagens. Uma boa imagem é inesquecível. Assim, em vez de explicar o que disse, vou mostrar o que disse por meio de uma imagem.
O corpo carrega duas caixas. Na mão direita, mão da destreza e do trabalho, ele leva uma caixa de ferramentas. E na mão esquerda, mão do coração, ele leva uma caixa de brinquedos. Ferramentas são melhorias do corpo. Os animais não precisam de ferramentas porque seus corpos já são ferramentas. Eles lhes dão tudo aquilo de que necessitam para sobreviver.
Como são desajeitados os seres humanos quando comparados com os animais! Veja, por exemplo, os macacos. Sem nenhum treinamento especial eles tirariam medalhas de ouro na ginástica olímpica. E os saltos das pulgas e dos gafanhotos!
Já prestou atenção na velocidade das formigas? Mais velozes a pé, proporcionalmente, que os bólidos de F-1! O vôo dos urubus, os buracos dos tatus, as teias das aranhas, as conchas dos moluscos, a língua saltadora dos sapos, o veneno das taturanas, os dentes dos castores.
Nossa inteligência se desenvolveu para compensar nossa incompetência corporal. Inventou melhorias para o corpo: porretes, pilões, facas, flechas, redes, barcos, jegues, bicicletas, casas... Disse Marshall MacLuhan corretamente que todos os "meios" são extensões do corpo. É isso que são as ferramentas, meios para viver. Ferramentas aumentam a nossa força, nos dão poder. Sem ser dotado de força de corpo, pela inteligência o homem se transformou no mais forte de todos os animais, o mais terrível, o maior criador, o mais destruidor. O homem tem poder para transformar o mundo num paraíso ou num deserto.
A primeira tarefa de cada geração, dos pais, é passar aos filhos, como herança, a caixa de ferramentas. Para que eles não tenham de começar da estaca zero. Para que eles não precisem pensar soluções que já existem. Muitas ferramentas são objetos: sapatos, escovas, facas, canetas, óculos, carros, computadores. Os pais apresentam tais ferramentas aos seus filhos e lhes ensinam como devem ser usadas. Com o passar do tempo, muitas ferramentas, muitos objetos e muitos de seus usos se tornam obsoletos. Quando isso acontece, eles são retirados da caixa. São esquecidos por não terem mais uso. As meninas não têm de aprender a torrar café numa panela de ferro, e os meninos não têm de aprender a usar arco-e-flecha para encontrar o café da manhã. Somente os velhos ainda sabem apontar os lápis com um canivete...
Outras ferramentas são puras habilidades. Andar, falar, construir. Uma habilidade extraordinária que usamos o tempo todo, mas de que não temos consciência, é a capacidade de construir, na cabeça, as realidades virtuais chamadas mapas. Para nos entendermos na nossa casa, temos de ter mapas dos seus cômodos e mapas dos lugares onde as coisas estão guardadas. Fazemos mapas da casa. Fazemos mapas da cidade, do mundo, do universo. Sem mapas, seríamos seres perdidos, sem direção.
A ciência é, ao mesmo tempo, uma enorme caixa de ferramentas e, mais importante que suas ferramentas, um saber de como se fazem as ferramentas. O uso das ferramentas científicas que já existem pode ser ensinado. Mas a arte de construir ferramentas novas, para isso há de saber pensar. A arte de pensar é a ponte para o desconhecido. Assim, tão importante quanto a aprendizagem do uso das ferramentas existentes - coisa que se pode aprender mecanicamente— é a arte de construir ferramentas novas. Na caixa das ferramentas, ao lado das ferramentas existentes, mas num compartimento separado, está a arte de pensar.
(Fico a pensar: o que as escolas ensinam? Elas ensinam as ferramentas existentes ou a arte de pensar, chave para as ferramentas inexistentes? O problema: os processos de avaliação sabem como testar o conhecimento das ferramentas. Mas que procedimentos adotar para avaliar a arte de pensar?)
Assim, diante da caixa de ferramentas, o professor tem de se perguntar: "Isso que estou ensinando é ferramenta para quê? De que forma pode ser usado? Em que aumenta a competência dos meus alunos para cada um viver a sua vida?". Se não houver resposta, pode estar certo de uma coisa: ferramenta não é.
Mas há uma outra caixa, na mão esquerda, a mão do coração. Essa caixa está cheia de coisas que não servem para nada. Inúteis. Lá estão um livro de poemas da Cecília Meireles, a "Valsinha" de Chico Buarque, um cheiro de jasmim, um quadro de Monet, um vento no rosto, uma sonata de Mozart, o riso de uma criança, um saco de bolas de gude... Coisas inúteis. E, no entanto, elas nos fazem sorrir. E não é para isso que se educa? Para que nossos filhos saibam sorrir? Na próxima vez, a gente abre a caixa dos brinquedos...
Como são desajeitados os seres humanos quando comparados com os animais! Veja, por exemplo, os macacos. Sem nenhum treinamento especial eles tirariam medalhas de ouro na ginástica olímpica. E os saltos das pulgas e dos gafanhotos!
Já prestou atenção na velocidade das formigas? Mais velozes a pé, proporcionalmente, que os bólidos de F-1! O vôo dos urubus, os buracos dos tatus, as teias das aranhas, as conchas dos moluscos, a língua saltadora dos sapos, o veneno das taturanas, os dentes dos castores.
Nossa inteligência se desenvolveu para compensar nossa incompetência corporal. Inventou melhorias para o corpo: porretes, pilões, facas, flechas, redes, barcos, jegues, bicicletas, casas... Disse Marshall MacLuhan corretamente que todos os "meios" são extensões do corpo. É isso que são as ferramentas, meios para viver. Ferramentas aumentam a nossa força, nos dão poder. Sem ser dotado de força de corpo, pela inteligência o homem se transformou no mais forte de todos os animais, o mais terrível, o maior criador, o mais destruidor. O homem tem poder para transformar o mundo num paraíso ou num deserto.
A primeira tarefa de cada geração, dos pais, é passar aos filhos, como herança, a caixa de ferramentas. Para que eles não tenham de começar da estaca zero. Para que eles não precisem pensar soluções que já existem. Muitas ferramentas são objetos: sapatos, escovas, facas, canetas, óculos, carros, computadores. Os pais apresentam tais ferramentas aos seus filhos e lhes ensinam como devem ser usadas. Com o passar do tempo, muitas ferramentas, muitos objetos e muitos de seus usos se tornam obsoletos. Quando isso acontece, eles são retirados da caixa. São esquecidos por não terem mais uso. As meninas não têm de aprender a torrar café numa panela de ferro, e os meninos não têm de aprender a usar arco-e-flecha para encontrar o café da manhã. Somente os velhos ainda sabem apontar os lápis com um canivete...
Outras ferramentas são puras habilidades. Andar, falar, construir. Uma habilidade extraordinária que usamos o tempo todo, mas de que não temos consciência, é a capacidade de construir, na cabeça, as realidades virtuais chamadas mapas. Para nos entendermos na nossa casa, temos de ter mapas dos seus cômodos e mapas dos lugares onde as coisas estão guardadas. Fazemos mapas da casa. Fazemos mapas da cidade, do mundo, do universo. Sem mapas, seríamos seres perdidos, sem direção.
A ciência é, ao mesmo tempo, uma enorme caixa de ferramentas e, mais importante que suas ferramentas, um saber de como se fazem as ferramentas. O uso das ferramentas científicas que já existem pode ser ensinado. Mas a arte de construir ferramentas novas, para isso há de saber pensar. A arte de pensar é a ponte para o desconhecido. Assim, tão importante quanto a aprendizagem do uso das ferramentas existentes - coisa que se pode aprender mecanicamente— é a arte de construir ferramentas novas. Na caixa das ferramentas, ao lado das ferramentas existentes, mas num compartimento separado, está a arte de pensar.
(Fico a pensar: o que as escolas ensinam? Elas ensinam as ferramentas existentes ou a arte de pensar, chave para as ferramentas inexistentes? O problema: os processos de avaliação sabem como testar o conhecimento das ferramentas. Mas que procedimentos adotar para avaliar a arte de pensar?)
Assim, diante da caixa de ferramentas, o professor tem de se perguntar: "Isso que estou ensinando é ferramenta para quê? De que forma pode ser usado? Em que aumenta a competência dos meus alunos para cada um viver a sua vida?". Se não houver resposta, pode estar certo de uma coisa: ferramenta não é.
Mas há uma outra caixa, na mão esquerda, a mão do coração. Essa caixa está cheia de coisas que não servem para nada. Inúteis. Lá estão um livro de poemas da Cecília Meireles, a "Valsinha" de Chico Buarque, um cheiro de jasmim, um quadro de Monet, um vento no rosto, uma sonata de Mozart, o riso de uma criança, um saco de bolas de gude... Coisas inúteis. E, no entanto, elas nos fazem sorrir. E não é para isso que se educa? Para que nossos filhos saibam sorrir? Na próxima vez, a gente abre a caixa dos brinquedos...
Momento Literário
" - Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas s galinhas e os homens se parecem também. E por isso me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado.O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo..." (SAINT -EXUPÉRY, p.68, 1998- 46° ed.)
Objetivos dos Fascículos
FASCÍCULO DO TUTOR
• Oferecer suporte à ação pedagógica dos professores das séries iniciais do ensino fundamental de modo a elevar a qualidade do ensino de Língua Portuguesa, por meio da formação continuada de professores;
• Compreender o sentido e a importância da formação continuada de professores para o desenvolvimento profissional dos professores;
• Relacionar os princípios da aprendizagem de adultos ao processo de formação contínua de professores;
• Identificar o papel do orientador de estudos como formador de professores e articulador do processo formativo.
• Reconhecer a importância do orientador de estudos como integrante de uma rede de formação que também é constituída do Ministério de Educação, Universidades, Secretarias de Educação, Escolas e Professores.
FASCÍCULO 1 e 2
• ·Apresentar conceitos e concepções fundamentais ao processo de alfabetização;
• · Sistematizar as capacidades mais relevantes a serem atingidas pelas crianças, ao longo dos três primeiros anos do Ensino Fundamental de nove anos;
• · Propor procedimentos e estratégias importantes no processo de avaliação da alfabetização.
FASCÍCULO 3
• · Discutir o tempo que dedicamos à leitura na sala de aula (o que lemos, como lemos, quando lemos e com que freqüência?) e o tempo que dedicamos à escrita (que tempo reservamos à escrita e com quais tipos de atividade o ocupamos?);
• · Considerar o planejamento como uma ferramenta que possa contribuir de fato com as escolhas e com os trabalhos a nós solicitados a desenvolver no cotidiano da escola.
FASCÍCULO 4
• · Refletir sobre a importância da Biblioteca escolar ou da sala de leitura, apontando elementos relacionados à sua organização e possibilidades de uso;
• Analisar diferentes modalidades de leitura e a fundamental mediação do(a) professor(a) ao longo desse processo;
• Discutir a relevância do Dicionário como aliado no dia-a-dia da sala de aula.
FASCÍCULO 5
• Refletir sobre o uso de jogos e brincadeiras no processo de alfabetização;
• Refletir sobre a importância de aliar o ensino do sistema alfabético a práticas de leitura e produção de textos nos anos iniciais do ensino fundamental;
• Reconhecer os objetivos didáticos que orientam a elaboração de projetos didáticos nos anos iniciais do ensino fundamental;
• Analisar alternativas didáticas elaboradas em projetos desenvolvidos por professoras de escolas públicas;
• Planejar atividades voltadas para o domínio do sistema alfabético, leitura e produção de textos para os anos iniciais do ensino fundamental.
FASCÍCULO 6
• Refletir sobre o processo de modificação dos livros didáticos de alfabetização e de Língua Portuguesa a partir da institucionalização do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático);
• Identificar as características desses “novos” livros didáticos;
• Compreender o processo de escolha dos livros didáticos;
• Analisar o uso que os professores e professoras fazem do livro didático em suas práticas de ensino.
FASCÍCULO 7
• Refletir sobre as características do texto oral espontâneo de alunos de primeira série e do texto escrito elaborado coletivamente em sala de aula;
• Trabalhar com regras variáveis freqüentes nas nossas comunidades de fala, que vão aparecer na produção oral das crianças;
• Refletir sobre a integração dos saberes da oralidade na produção escrita dos alunos;
• Refletir sobre convenções da língua escrita;
• Refletir sobre atividades de leitura e interpretação em sala de aula.
FASCÍCULO COMPLEMENTAR
• Constatar a necessidade e a importância de uma ação pedagógica que, nas séries ou ciclos iniciais, possibilite a todas as crianças a participação em práticas sociais de letramento;
• Refletir sobre diferentes possibilidades de ação pedagógica com o sistema de escrita, a partir de contextos significativos de uso desse sistema;
• Identificar a leitura como processo em que, mediados pelo professor, os alunos atuam como sujeitos que produzem significados e sentidos;
• Reconhecer a importância de uma prática textual que dê condições ao aluno de adequar o seu discurso aos diferentes contextos interlocutivos e de assumir-se, verdadeiramente, como autor dos textos que produz;
• Compreender a importância de um processo de formação que garanta a todos os professores a vivência constante do tripé ação-reflexão-ação.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Pró-Letramento: Ementa
Capacidades Lingüísticas: Alfabetização e Letramento; Alfabetização e Letramento: questões sobre a Avaliação; Organização do Tempo Pedagógico e o Planejamento do Ensino; Organização e Uso da Biblioteca Escolar e das Salas de Leitura; O Lúdico na Sala de Aula: Projetos e Jogos; O Livro Didático em Sala de Aula: Algumas Reflexões; Modos de Falar / Modos de Escrever; Práticas lingüístico-pedagógicas desenvolvidas com o tema “História de vida”.
Definição do curso
O objetivo do Pró-Letramento é oferecer suporte à ação pedagógica dos professores das séries iniciais do ensino fundamental de modo a elevar a qualidade do ensino de Língua Portuguesa e Matemática, por meio da formação continuada de professores. Para tanto, visa desencadear situações que viabilizem a construção de conhecimentos pelos professores, a fim de que possam estabelecer novas compreensões e reflexões, à medida que estiverem inseridos numa rede de formação. O curso de Alfabetização e Linguagem é composto por oito fascículos.
Histórico - Pró-Letramento
Diante dos resultados críticos do SAEB, em fevereiro de 2005, o Governo Federal sugeriu uma ação emergencial aos Centros da Rede de Formação (Centros de Alfabetização e Linguagem: UnB, Unicamp, UFMG, UFPE, UFPG. Centros de Educação Matemática e Científica: UFPA, UFRJ, UFES, Unesp, Unisinos) que minimizasse os problemas referentes ao letramento e numeramento. Dessa forma, os centros organizaram o Pró-Letramento.
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