A organização do trabalho de leitura e escrita precisa estar em sintonia com o que é próprio da idade, considerando a experiência prévia das crianças com o mundo da escrita em seus espaços familiares, sociais e escolares. Assim, é preciso criar contextos significativos, trabalhando com temas de interesse e com amplo mundo da escrita, que desafia as crianças a lidar com a diversidade de textos que elas conhecem e de outros que precisam conhecer, sem perder de vista os conteúdos que se pretende atingir. O professor deverá lidar com dois desafios: aproveitar a experiência que a criança já tem com a cultura escrita, as necessidades de ler e escrever de cada turma e, também, saber o que pode organizar estabelecendo um conjunto de procedimentos que pode ser adaptado a cada contexto.
EIXOS GERAIS QUE AUXILIAM NA ORGANIZAÇÃO
A) Criação de contextos significativos
O contato produtivo com a leitura e a escrita de textos é possível quando a escola constrói situações e relações em que a escrita e a leitura se fazem presentes de maneira significativa para os alunos. Assim, é fundamental aproveitar todos os momentos possíveis para que as crianças tenham contato com textos e os utilizem. Situações, em geral não exploradas, como as correspondências com os familiares, os avisos para alunos, a comunicação entre turmas, os murais, as pesquisas e seus registros, os cartazes relacionados à vida escolar – como os de eventos ou campanhas – são ricas em potencial educativo.
B) Favorecer o contato com variados tipos de textos, com seu uso efetivo e com a análise de seus aspectos formais.
Cabe, portanto, à escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. A escola deve oferecer condições de análise e reflexão sobre os gêneros e tipos textuais: como se organizam, que características possuem e qual a finalidade do texto.
MODOS DE ORGANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES
A) Atividades permanentes
-Atividades sobre as relações entre a língua oral e a língua escrita
-Atividades para o aprendizado do sistema alfabético
-Atividades de interpretação e compreensão de textos
-Atividades de produção de textos
B) Jogos e desafios
Os jogos possibilitam que determinadas abordagens do sistema, como as relações entre sons e letras e o reconhecimento do alfabeto ou mesmo de palavras, sejam trabalhadas em situações desafiadoras e lúdicas, sem recorrer a exercícios repetitivos de memorização e análise.
C) Trabalho com temas
Nessa forma de organização, um tema é eleito ou proposto, como brincadeiras, cinema ou esportes, por exemplo, estimulando-se a leitura e o registro de textos relacionados ao tema escolhido. Cabe ressaltar que nesse caso, é preciso não perder de vista que o tópico de estudo é o tema, mas que as atividades de leitura e de escrita em torno dele é que contribuem para o processo da alfabetização.
Se, por exemplo, o grupo estiver estudando o tema brincadeira de nosso tempo e do tempo de nossos avós, vai precisar registrar, por escrito, listas de nomes de brincadeiras, fazer esquemas comparativos entre as brincadeiras de outros tempos, mas que ainda permanecem e àquelas mais desconhecidas, vai poder produzir convites para avós, criar legendas para exposição de brinquedo, entre várias outras coisas.Todas essas atividades vão exigir que o professor apresente exemplos de tipos de texto, e que solicite às crianças que tentem escrever, com sua ajuda, uma carta, convite ou cartaz. Exigem, também que ele proponha jogos e desafios para a escrita, ou para o reconhecimento de palavras que eles já conhecem, sobre pedaços de palavras que eles já conhecem, sobre pedaços de palavras que ajudam a escrever. Em todas estas situações, é necessário rever o planejamento geral do tema, para pensar especificamente as necessidades de escrita e leitura que o trabalho como tema exige.
D) Organização dos espaços de leitura e escrita na sala de aula e na escola
Estas atividades se referem ao uso da biblioteca de classe e da escola, dos murais, jornais e outros espaços em que a escrita circula para a comunicação com outras turmas e com a comunidade, entre outros. A organização e o uso destes espaços podem se constituir em projetos específicos que gerem várias unidades de estudo sobre a cultura escrita e sobre o sistema da escrita, porque sua utilização autônoma exige a aprendizagem da leitura e da escrita.
Ressaltamos que o espaço de circulação e armazenamento dos textos é um eixo organizador do trabalho com crianças, porque permite construir sociabilidades importantes em torno da leitura e da escrita. Para usufruir a cultura escrita, é precisa saber onde são guardados os textos e saber como funcionam os espaços de circulação da escrita. Acreditamos que os espaços e modos de escrita escolares não sejam “de mentira”, são autênticos e podem ser ainda mais valorizados quando percebemos claramente as suas funções. Assim, a biblioteca de classe, a biblioteca escolar, os murais da sala e dos corredores e pátios são muito importantes para dar sentido à comunicação escrita na escola. Biblioteca é um local de socialização que introduz os alunos num ambiente institucionalizado de armazenamento, circulação e acesso aos textos e deve ser usada para os fins adequados, seja de forma autônoma e mais livre ou em atividades programadas coletivamente. A biblioteca de classe também é um ótimo espaço para se ter materiais, os mais diversos, ao alcance dos alunos, para atividades livres ou dirigidas, e sua organização (inventário de materiais, fichas de empréstimo etc.) dá excelente oportunidade para se aprender sobre as formas de organização da cultura escrita. Murais devem ser um incentivo para a produção autêntica dos textos e da leitura dos alunos e terão tanto mais sentido quanto mais cumprirem a função de informar, de expressar idéias e de se comunicar com outros grupos.
E) Organização em torno do cotidiano da sala de aula e da escola
O cotidiano da escola é rico em situações em que a escrita e a leitura são necessárias e fazem sentido. Apresentamos a seguir várias delas e ressaltamos que durante a leitura e a escrita, o professor deverá fazer, sempre que possível, a abordagem dos aspectos formais do sistema, fornecendo informações necessárias para que se realize a leitura ou registro para o grupo e para cada solicitação individual dos alunos:
· Chamada
· Organização da agenda do dia e da semana (hora do trabalho como o alfabeto, com jogos, com cópia de textos e de palavras, com assembléia de turma, momentos de contar e de ler histórias etc.)
· Utilização do calendário, com datas, dias da semana e horários para marcar tempo entre uma atividade e outra;
· Agenda dos alunos, com pequenos lembretes sobre tarefas e materiais a serem utilizados, assim como correspondência com as famílias;
· Listas de materiais a serem trazidos, de livros lidos, de personagens de histórias com suas características;
· Horários e dias de organização e de freqüência a biblioteca ou de atividade “extra classe”;
· Pequenos relatórios de atividades realizadas;
[1] BRASIL, Ministério da Educação. Ensino fundamental de nove anos: orientação para a inclusão da criança de seis anos de idade. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Departamento de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: FNDE, Estação Gráfica, 2006.
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