[...] Que a aprendizagem seja uma extensão progressiva do corpo, que vai crescendo, inchando, não apenas em seu poder de compreender e de conviver com a natureza, mas em sua capacidade para sentir prazer, o prazer da contemplação da natureza, o fascínio perante os céus estrelados, a sensibilidade tátil ante as coisas que nos tocam, o prazer da fala, o prazer das histórias e das fantasias, o prazer da comida, da música, do fazer nada, do riso... Afinal de contas, não é pra isso que vivemos, o puro prazer de estarmos vivos?
Rubem Alves
Márcia Regina Alves Gondim
Diferentes teorias influenciam o processo de aprendizagem, estruturando diferentes perspectivas sobre a educação. As teorias psicológicas refletem as variadas concepções de homem, de mundo e de sociedade, denotando olhares diferenciados sobre os sujeitos e sobre o processo de aprendizagem. Estas concepções estão nitidamente presentes nas mais variadas correntes que influenciam a organização do trabalho pedagógico. Cada teoria propõe caminhos diferenciados ao procurar compreender os processos de desenvolvimento e de aprendizagem.
As concepções sobre teorias de aprendizagens estão voltadas para explicações de como o processo de desenvolvimento e de aprendizagens ocorrem, derivando de pressupostos gerais a partir da ênfase dada na relação do sujeito com o objeto relacionadas nas abordagens abaixo.
Abordagem inatista (primado no sujeito): Baseia-se na idéia de que o indivíduo é pré-determinado biologicamente, e o ambiente tem pouca influência sobre seu desenvolvimento. Enfatiza os fatores maturacionais e herdados como constituintes do ser humano e determinante do processo de aprendizagem. A educação tem papel limitado nas modificações ou impactos no desenvolvimento humano e na aprendizagem. Nesta concepção o desenvolvimento é pré-requisito para a aprendizagem. Os problemas de sucesso e fracasso escolar dependem apenas do sujeito.
Abordagem empirista (primado no objeto): Denota responsabilidade ao ambiente nas questões do desenvolvimento humano. A experiência é fonte de aprendizagem. O sujeito nasce sendo considerado “tábula rasa” e suas experiências, constituídas pelo ambiente, caracterizam os aspectos psicológicos sociais, intelectuais, desenvolvimentais, e da aprendizagem. Os reflexos desta concepção na educação são visualisados pelo grande número de informações, programas educacionais e educação compensatória para crianças de classes populares, cujo acesso ao mundo letrado é bastante restrito. O pressuposto central é a transformação, correção e estimulação do sujeito feito através da transposição do sujeito para ambiente mais rico de estímulos e programado para favorecer a aprendizagem. A aprendizagem é confundida com memorização, repetição, fixação e cópia. Salientado a expressão oral ou escrita pelo uso programado das técnicas e metodologias. Nesta concepção o sujeito desenvolve-se porque tem capacidade para aprender.
Abordagem interacionista (primado na interação entre sujeito e objeto): A construção contínua do psiquismo do sujeito é respaldada por sua interação com o objeto, em forma circular. O organismo e o meio estão em uma interdependência, ressaltando o caráter em que esta interação provoca mudanças significativas no sujeito, que ao mesmo tempo transforma o meio e o conhecimento. Na interação do sujeito com o mundo físico e social o sujeito tem papel ativo perante a construção de seu desenvolvimento e de sua aprendizagem. A experiência e a aquisição de conhecimentos estão ligadas às relações do sujeito com o mundo. A educação exerce papel importante nos processos de desenvolvimento e da aprendizagem. O sujeito possui processo ativo na aquisição da aprendizagem e na construção do conhecimento, na co-experiência e na mediação com os outros.
TRÊS CONCEPÇÕES SOBRE O CONHECIMENTO ESCOLAR:
Cientificista conservadora: conhecimento pronto e acabado, transmitido aos alunos que não o detêm. (professores acham que abrir discussão com os alunos é perda de tempo e não vencimento dos conteúdos)
Concepção espontaneísta: Nega e desvaloriza os conteúdos disciplinares, entendendo a escola apenas como espaço aquisição de conhecimentos e atendimento dos interesses imediatos dos alunos.
Essas duas visões possuem uma visão dicotômica do conhecimento escolar, fragmentando um processo que não pode ser fragmentado.
Concepção integradora: é uma concepção globalizante, pois permite aos alunos analisarem os problemas, as situações e os conhecimentos dentro do contexto e me sua globalidade, usando para isso os conhecimentos escolares e sua experiência sociocultural.
CONHECIMENTO:
De acordo com Leite (1996) estas concepções de conhecimento podem ser visualizadas em uma perspectiva compartimentada ou em uma perspectiva globalizante.
Perspectiva compartimentada | Perspectiva globalizante |
Enfoque fragmentado, centrado na transmissão de conteúdos prontos. | Enfoque globalizador, centrado na resolução de problemas significativos. |
Conhecimento como acúmulo da fatos e informações isoladas. | Conhecimento como instrumento para compreensão e possível intervenção na realidade. |
O aluno é visto como sujeito dependente, que recebe passivamente o conteúdo transmitido pelo professor. | O professor intervém no processo de aprendizagem dos alunos, criando situações problematizadoras, introduzindo novas informações, dando condições para que eles avancem em seus esquemas de compreensão da realidade. |
O conteúdo a ser estudado determina o problema. | O aluno é visto como sujeito, ativo que usa suas experi~encias e conhecimentos para resolver problemas. |
O conteúdo a ser estudado determina o problema. | O aluno é visto como sujeito, ativo que usa suas experi~encias e conhecimentos para resolver problemas. |
Há uma sequenciação rígida dos conteúdos da disciplina, com pouca flexibilidade no processo aprendizagem. | A sequenciação é vista em termos de níveis de abordagem e aprofundamento em relação às possibilidades dos alunos (contato, uso e análise) |
Baseia-se, fundamentalmente, nos problemas e atividades apresentadas nas unidades dos livros didáticos | Baseia-se, fundamentalmente, em uma análise global da realidade. |
Propõe receitas e métodos prontos, reforçando a repetição e o treino. | Possibilidades de os alunos estabelecerem suas próprias estratégias. |
REFERÊNCIAS:
SOARES, Silvia Lúcia – Pedagogia de Projetos - Bases Pedagógicas do Trabalho Escolar – Seção 2 - Módulo VI- Volume 1- Universidade de Brasília- Faculdade de Educação - Cátedra Unesco de educação a Distância - PIE - Pedagogia para Professores em Exercício no Início de Escolarização - Em convênio com a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, 2003.
POLONIA, Ana da Costa; SILVA, Ângela Anastácio; SILVA Maria do Socorro; Brandão, Sumeire Aparecida – Contribuições da psicologia para a Educação. Seção 2 - Módulo IV - Volume 3 - Universidade de Brasília- Faculdade de Educação - Cátedra Unesco de educação a Distância - PIE - Pedagogia para Professores em Exercício no Início de Escolarização - Em convênio com a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, 2003.
GROSSI, Esther Pillar; BORDIN, Jussara. (orgs.) A Paixão de Aprender. Petrópolis. RJ: Vozes, 1992.
Nenhum comentário:
Postar um comentário