sala de aula (Bortoni-Ricardo, 2004), organizado pelos alunos do 1º semestre/2005
da disciplina “Ensino e aprendizagem da língua materna” do Curso de Pedagogia
da UnB, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Dilma de Almeida Pereira (Pereira, 2008, p.69-72).
VOCABULÁRIO CRÍTICO
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em Língua Materna: a Sociolinguística na
sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.
Adequação linguística: É a forma de um falante utilizar sua fala, de acordo com o momento e o ambiente no qual está inserido e seguindo as normas e os padrões definidos em sua cultura, podendo manifestar-se coloquialmente (por exemplo, quando se encontra diante de pessoas conhecidas ou em momentos descontraídos), ou formalmente (quando está diante de uma pessoa desconhecida ou em locais formais). |
Assimilação: Este fenômeno linguístico acontece quando, numa sequência de sons parecidos, um deles assimila o outro, que desaparece. Ex.: falando – falanu. |
Atributos de um falante: São aqueles que fazem parte da própria individualidade do falante, como por exemplo: sua idade, sexo, status socioeconômico, nível de escolarização etc. |
Codificação linguística: Processo de padronização da língua estabelecido pela imprensa, obras literárias e, principalmente, a escola. São fatores que, ao longo do processo sócio-histórico, vêm influenciando os falares urbanos, como a ortografia (definição do padrão correto de escrita), a ortoépia (do padrão correto da pronúncia), da composição de dicionários e gramáticas. |
Competência comunicativa: Conceito criado por Dell Hymes (1966) que inclui as regras que orientam a formação das sentenças e as normas sociais e culturais que definem a adequação da fala. Permite ao falante saber o que falar e como falar com quaisquer interlocutores em quaisquer circunstâncias. |
Comunidade de fala: Local onde convivem falantes de diversas variedades regionais. |
Contínuo de monitoração estilística: Linha imaginária onde se situam desde as interações totalmente espontâneas (menor monitoração) até aquelas que são previamente planejadas e que exigem muita atenção do falante (maior monitoração). |
Contínuo de oralidade-letramento: Linha imaginária onde se dispõem os eventos de comunicação, conforme sejam eles eventos mediados pela língua escrita que são os eventos de letramento, ou eventos de oralidade em que não há influência direta da língua escrita. |
Contínuo de urbanização: É o contínuo onde podemos situar qualquer falante do português brasileiro, levando em conta a região onde ele nasceu e vive. Em uma das pontas da linha imagina-se que estão situados os falares rurais mais isolados. No pólo oposto, estão as variedades urbanas que receberam maior influência dos processos de padronização da língua. No espaço entre eles, está localizado o grupo rurbano, formado de migrantes de origem rural que preservam seus traços culturais, notadamente o repertório linguístico e as comunidades interioranas situadas em núcleos semi-rurais. |
Cultura de letramento: Cultura permeada pela leitura e escrita. |
Cultura de oralidade: É predominantemente oral, observada, principalmente, no domínio do lar em relações permeadas pelo afeto e informalidade. |
Desnasalização: Fenômeno que ocorre em sílabas finais átonas com travamento nasal; é a supressão da consoante (ou semivogal) de travamento nasal nas sílabas de padrão CVC (consoante/ vogal/ consoante). Ex.: virgem>virge, homem>homi, fizeram>fizeru. |
Domínio social: É o espaço físico onde as pessoas interagem assumindo suas obrigações e direitos que são definidos pelas normas socioculturais existentes na sociedade. |
Erros de português: São simplesmente diferenças entre variedades da língua. Normalmente tais diferenças se apresentam entre a variedade usada no domínio do lar, onde prevalece uma cultura de oralidade e a usada na escola, permeada pela leitura e escrita, isto é, por uma cultura de letramento. Ao estudar-se as tendências evolutivas da língua tem-se facilmente as explicações para os “erros” dos alunos e nota-se claramente quão inadequada e preconceituosa é a expressão. |
Eventos de letramento: São eventos mediados principalmente pela língua escrita. Os interagentes se apoiam em um texto (escrito), que pode estar presente no ambiente da interação ou pode ter sido estudado ou lido previamente. |
Eventos de oralidade: Eventos de comunicação onde não há influência direta da língua escrita. A fala pode ser menos ou mais monitorada, dependendo de três fatores básicos: ambiente, interlocutor e tópico da conversa, conforme o alinhamento assumido diante deles, se de familiaridade ou não. |
Fatores linguístico-estruturais: Fatores da própria língua, tais como o ambiente fonológico em que o segmento que está em variação ocorre, a classe da palavra, a estrutura sintática. Em suma, os fatores linguísticos estruturais podem ser, fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos, pragmáticos e até discursivos. |
Fatores socioestruturais: Representam atributos estruturais de um falante: idade, sexo, status socioeconômico, nível de escolarização etc. São atributos que fazem parte da própria individualidade do falante. |
Fatores sociofuncionais: Resultam da dinâmica das interações sociais, influências obtidas tanto na rede social, com quem o indivíduo efetivamente interage, como no grupo de referência, com quem não interage fisicamente, mas tem como modelo para sua conduta. |
Grupos rurbanos: São formados pelos migrantes de origem rural que preservam muito de seus antecedentes culturais, principalmente no seu repertório linguístico, e as comunidades interioranas residentes em distritos ou núcleos semi-rurais, que estão submetidos à influência urbana, seja pela mídia, seja pela absorção de tecnologia agropecuária. |
Insegurança linguística: Ocorre diante de exagerada formalidade e rigor no uso da fala, no momento de transição entre o domínio do lar (com predominância da cultura de oralidade) e o da escola (onde ocorre a cultura de letramento). Acontece pela pressão comunicativa criada na interação. |
Monitoração linguística: Caracteriza-se pela observação atenta da linguagem. Uso de uma linguagem mais cuidada. Ocorre tanto em eventos de oralidade quanto de letramento. |
Monotongação: É o processo de supressão da semivogal nos ditongos, como em roupa>ropa, rouba>róba. |
Neutralização: É a troca dos fonemas / r / e / l / que configuram traços descontínuos, só encontrados no pólo rural ou a neutralização destes fonemas nessa posição pode caracterizar um problema articulatório, que tem de ser tratado por fonoaudiólogos. |
Papel social: É um conjunto de obrigações e de direitos definidos por normas socioculturais. Eles se constroem no próprio processo de interação humana. |
Pedagogia culturalmente sensível: Pedagogia que está atenta às diferenças entre a cultura que os educandos representam e a cultura da escola, e que mostra ao professor como encontrar formas efetivas de conscientizar educandos sobre essas diferenças. |
Preconceito linguístico: Extrema valorização dos falares de maior prestígio, que alimentam rejeição e preconceito em relação a outros falares. |
Pressão comunicativa: Pressão exercida sobre o falante geralmente quando esse não se encontra à vontade num determinado domínio social por não dispor dos recursos comunicativos necessários. |
Recursos comunicativos: São recursos gramaticais, de vocabulário, estratégias retórico-discursivas que um falante precisa dispor para viabilizar seu ato de fala. São adquiridos conforme o falante amplia suas experiências na comunidade onde vive, assumindo vários papéis sociais. Mas é, principalmente, a escola a responsável por ampliar a gama de tais recursos, que possibilitarão ao falante atender às convenções sociais que definem o uso linguístico adequado a cada gênero textual, a cada tarefa comunicativa, a cada tipo de interação. |
Repertório linguístico: São palavras e expressões características da cultura do falante. |
Rotacismo: Fenômeno que consiste na passagem do /l/ para /r/, como em: planta>pranta. É bastante estigmatizado na cultura urbana, pois tem maior ocorrência nos pólos rural e rurbano (migrantes do meio rural ou com grande influência deste), caracterizando-se como traço descontínuo. |
Saliência fônica: Baseia-se na constatação de pesquisadores para a tendência em empregar o plural nas formas verbais fonologicamente mais salientes, isto é, quando a forma da terceira pessoa do plural for muito distinta da terceira do singular, há mais chance do falante em fazer a flexão. Quanto maior for a diferença (saliência) entre as duas formas maior possibilidade de o falante realizar a flexão e quanto mais forem semelhantes menor a probabilidade de se realizar a flexão. |
Traços descontínuos: Caracteriza palavras e expressões típicas dos falares situados no pólo rural e que vão desaparecendo à medida que nos aproximamos do pólo urbano. Têm, portanto, uma distribuição descontínua porque seu uso é descontinuado nas áreas urbanas, não está presente em todo o “contínuo de urbanização”, apresentando, por isso, alto grau de estigmatização nas comunidades urbanas. |
Traços graduais: São traços que estão presentes na fala de todos os brasileiros e, portanto, se distribuem ao longo de todo o contínuo; têm uma distribuição gradual, dessa forma, não são estigmatizados. |
Travamento silábico: No padrão CVC, é a segunda consoante que fecha a sílaba. São as consoantes que travam sílabas as que estão sujeitas a maior variação no português brasileiro, pois tendem a ser suprimidas principalmente em estilos não monitorados. |
Variação linguística: Está diretamente relacionada à diversidade linguística. A variação faz parte das línguas humanas. |
Variação regional: São certas diferenças regionais também chamadas dialetais, manifestadas mais na pronúncia de alguns sons, no ritmo, na melodia e em algumas palavras. |
Variante: Formas linguísticas diferentes que veiculam o mesmo sentido. |
Variedade regional/falar/dialeto: São os diferentes falares presentes nas diversas culturas. Instrumento identitário, isto é, um recurso que confere identidade a um grupo social. |
Referência Bibliográfica:
PEREIRA, Ana Dilma de Almeida. A educação
(socio)linguística no processo de formação de
professores do Ensino Fundamental. Brasília,
2008. 284p. Tese (Doutorado em Linguística).
Departamento de Linguística, Português e
Línguas Clássicas, UnB.
[1] A expressão educação em língua materna ressalta a importância de o professor, em sua prática pedagógica, adotar uma pedagogia que seja culturalmente sensível aos saberes dos educandos, estando atento às diferenças entre a cultura que eles representam e a cultura da escola. A educação em língua materna considera as diferentes formas efetivas de se conscientizar os educandos sobre essas diferenças, ampliando seus recursos comunicativos e, consequentemente, possibilitando-lhes o acesso a múltiplos letramentos. Ela visa uma pedagogia formativa, transformativa e crítica (Pereira, 2008, p.17).
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