segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Vocabulário Crítico do livro Educação em Língua Materna - Ana Dilma de Almeida Pereira

Vocabulário Crítico do livro Educação em Língua Materna[1]: a Sociolinguística na
sala de aula (Bortoni-Ricardo, 2004), organizado pelos alunos do 1º semestre/2005
da disciplina “Ensino e aprendizagem da língua materna” do Curso de Pedagogia
da UnB, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Dilma de Almeida Pereira (Pereira, 2008, p.69-72).

VOCABULÁRIO CRÍTICO

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em Língua Materna: a Sociolinguística na
sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.


Adequação linguística: É a forma de um falante utilizar sua fala, de acordo com
o momento e o ambiente no qual está inserido e seguindo as normas e os padrões
 definidos em sua cultura, podendo manifestar-se coloquialmente (por exemplo,
quando se encontra diante de pessoas conhecidas ou em momentos descontraídos),
ou formalmente (quando está diante de uma pessoa desconhecida ou em locais
 formais).

Assimilação: Este fenômeno linguístico acontece quando, numa sequência de sons
 parecidos, um deles assimila o outro, que desaparece. Ex.: falando – falanu.

Atributos de um falante: São aqueles que fazem parte da própria
individualidade do falante, como por exemplo: sua idade, sexo, status
socioeconômico, nível de escolarização etc.

Codificação linguística: Processo de padronização da língua estabelecido
pela imprensa, obras literárias e, principalmente, a escola. São fatores que,
ao longo do processo sócio-histórico, vêm influenciando os falares urbanos,
como a ortografia (definição do padrão correto de escrita), a ortoépia (do
padrão correto da pronúncia), da composição de dicionários e gramáticas.

Competência comunicativa: Conceito criado por Dell Hymes (1966) que
inclui as regras que orientam a formação das sentenças e as normas
sociais e culturais que definem a adequação da fala. Permite ao falante
 saber o que falar e como falar com quaisquer interlocutores em quaisquer
circunstâncias.

Comunidade de fala: Local onde convivem falantes de diversas variedades
 regionais.

Contínuo de monitoração estilística: Linha imaginária onde se situam
desde as interações totalmente espontâneas (menor monitoração) até
aquelas que são previamente planejadas e que exigem muita atenção do
 falante (maior monitoração).

Contínuo de oralidade-letramento: Linha imaginária onde se dispõem
os eventos de comunicação, conforme sejam eles eventos mediados pela
 língua escrita que são os eventos de letramento, ou eventos de oralidade
em que não há influência direta da língua escrita.

Contínuo de urbanização: É o contínuo onde podemos situar qualquer
 falante do português brasileiro, levando em conta a região onde ele
nasceu e vive. Em uma das pontas da linha imagina-se que estão
situados os falares rurais mais isolados. No pólo oposto, estão as
variedades urbanas que receberam maior influência dos processos
de padronização da língua. No espaço entre eles, está localizado o
grupo rurbano, formado de migrantes de origem rural que preservam
seus traços culturais, notadamente o repertório linguístico e as
comunidades interioranas situadas em núcleos semi-rurais.

Cultura de letramento: Cultura permeada pela leitura e escrita.

Cultura de oralidade: É predominantemente oral, observada,
 principalmente, no domínio do lar em relações permeadas
pelo afeto e informalidade.

Desnasalização: Fenômeno que ocorre em sílabas finais
átonas com travamento nasal; é a supressão da consoante
 (ou semivogal) de travamento nasal nas sílabas de padrão
 CVC (consoante/ vogal/ consoante). Ex.: virgem>virge,
homem>homi, fizeram>fizeru.

Domínio social: É o espaço físico onde as pessoas interagem
 assumindo suas obrigações e direitos que são definidos
pelas normas socioculturais existentes na sociedade.

Erros de português: São simplesmente diferenças entre
variedades da língua. Normalmente tais diferenças se
apresentam entre a variedade usada no domínio do lar,
onde prevalece uma cultura de oralidade e a usada na escola,
permeada pela leitura e escrita, isto é, por uma cultura de
 letramento. Ao estudar-se as tendências evolutivas da língua
 tem-se facilmente as explicações para os “erros” dos alunos
e nota-se claramente quão inadequada e preconceituosa é
a expressão.

Eventos de letramento: São eventos mediados principalmente
pela língua escrita. Os interagentes se apoiam em um texto
(escrito), que pode estar presente no ambiente da interação
ou pode ter sido estudado ou lido previamente.

Eventos de oralidade: Eventos de comunicação onde não
 há influência direta da língua escrita. A fala pode ser menos
ou mais monitorada, dependendo de três fatores básicos:
ambiente, interlocutor e tópico da conversa, conforme o
 alinhamento assumido diante deles, se de familiaridade ou não.

Fatores linguístico-estruturais: Fatores da própria língua,
tais como o ambiente fonológico em que o segmento que
está em variação ocorre, a classe da palavra, a estrutura
sintática. Em suma, os fatores linguísticos estruturais
podem ser, fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos,
 pragmáticos e até discursivos.

Fatores socioestruturais: Representam atributos estruturais
 de um falante: idade, sexo, status socioeconômico, nível de
escolarização etc. São atributos que fazem parte da própria
individualidade do falante.

Fatores sociofuncionais: Resultam da dinâmica das
interações sociais, influências obtidas tanto na rede social,
 com quem o indivíduo efetivamente interage, como no
 grupo de referência, com quem não interage fisicamente,
mas tem como modelo para sua conduta.

Grupos rurbanos: São formados pelos migrantes de
origem rural que preservam muito de seus antecedentes
culturais, principalmente no seu repertório linguístico, e as
 comunidades interioranas residentes em distritos ou
 núcleos semi-rurais, que estão submetidos à influência
urbana, seja pela mídia, seja pela absorção de tecnologia
 agropecuária.

Insegurança linguística: Ocorre diante de exagerada
 formalidade e rigor no uso da fala, no momento de
 transição entre o domínio do lar (com predominância
da cultura de oralidade) e o da escola (onde ocorre a
cultura de letramento). Acontece pela pressão
comunicativa criada na interação.

Monitoração linguística: Caracteriza-se pela
 observação atenta da linguagem. Uso de uma
linguagem mais cuidada. Ocorre tanto em
eventos de oralidade quanto de letramento.

Monotongação: É o processo de supressão da
semivogal nos ditongos, como em roupa>ropa, rouba>róba.

Neutralização: É a troca dos fonemas / r / e / l /
que configuram traços descontínuos, só
encontrados no pólo rural ou a neutralização
destes fonemas nessa posição pode caracterizar
um problema articulatório, que tem de ser tratado
por fonoaudiólogos.

Papel social: É um conjunto de obrigações e
 de direitos definidos por normas socioculturais.
 Eles se constroem no próprio processo de interação humana.

Pedagogia culturalmente sensível: Pedagogia que está
atenta às diferenças entre a cultura que os educandos
representam e a cultura da escola, e que mostra ao
professor como encontrar formas efetivas de conscientizar
educandos sobre essas diferenças.

Preconceito linguístico: Extrema valorização dos falares
 de maior prestígio, que alimentam rejeição e preconceito
em relação a outros falares.

Pressão comunicativa: Pressão exercida sobre o falante
 geralmente quando esse não se encontra à vontade num
 determinado domínio social por não dispor dos recursos
 comunicativos necessários.

Recursos comunicativos: São recursos gramaticais,
de vocabulário, estratégias retórico-discursivas que um
 falante precisa dispor para viabilizar seu ato de fala.
São adquiridos conforme o falante amplia suas experiências
 na comunidade onde vive, assumindo vários papéis sociais.
 Mas é, principalmente, a escola a responsável por ampliar
a gama de tais recursos, que possibilitarão ao falante atender
 às convenções sociais que definem o uso linguístico
adequado a cada gênero textual, a cada tarefa comunicativa,
a cada tipo de interação.

Repertório linguístico: São palavras e expressões
características da cultura do falante.

Rotacismo: Fenômeno que consiste na passagem do /l/
para /r/, como em: planta>pranta. É bastante estigmatizado
 na cultura urbana, pois tem maior ocorrência nos pólos
 rural e rurbano (migrantes do meio rural ou com grande
influência deste), caracterizando-se como traço descontínuo.

Saliência fônica: Baseia-se na constatação de pesquisadores
 para a tendência em empregar o plural nas formas verbais
fonologicamente mais salientes, isto é, quando a forma da
terceira pessoa do plural for muito distinta da terceira do
singular, há mais chance do falante em fazer a flexão. Quanto
maior for a diferença (saliência) entre as duas formas maior
 possibilidade de o falante realizar a flexão e quanto mais forem
semelhantes menor a probabilidade de se realizar a flexão.


Traços descontínuos: Caracteriza palavras e expressões
típicas dos falares situados no pólo rural e que vão desaparecendo
à medida que nos aproximamos do pólo urbano. Têm, portanto,
uma distribuição descontínua porque seu uso é descontinuado
nas áreas urbanas, não está presente em todo o “contínuo de
urbanização”, apresentando, por isso, alto grau de estigmatização
 nas comunidades urbanas.

Traços graduais: São traços que estão presentes na fala de
 todos os brasileiros e, portanto, se distribuem ao longo de
 todo o contínuo; têm uma distribuição gradual, dessa forma,
 não são estigmatizados.

Travamento silábico: No padrão CVC, é a segunda consoante
 que fecha a sílaba. São as consoantes que travam sílabas as
 que estão sujeitas a maior variação no português brasileiro,
pois tendem a ser suprimidas principalmente em estilos não
monitorados.

Variação linguística: Está diretamente relacionada à
diversidade linguística. A variação faz parte das línguas humanas.

Variação regional: São certas diferenças regionais também
chamadas dialetais, manifestadas mais na pronúncia de alguns
sons, no ritmo, na melodia e em algumas palavras.

Variante: Formas linguísticas diferentes que veiculam
o mesmo sentido.

Variedade regional/falar/dialeto: São os diferentes falares
presentes nas diversas culturas. Instrumento identitário,
isto é, um recurso que confere identidade a um grupo social.



Referência Bibliográfica:
PEREIRA, Ana Dilma de Almeida. A educação
(socio)linguística no processo de formação de
professores do Ensino Fundamental. Brasília,
2008. 284p. Tese (Doutorado em Linguística).
Departamento de Linguística, Português e
 Línguas Clássicas, UnB.


[1] A expressão educação em língua materna ressalta a importância de o professor, em sua prática pedagógica, adotar uma pedagogia que seja culturalmente sensível aos saberes dos educandos, estando atento às diferenças entre a cultura que eles representam e a cultura da escola. A educação em língua materna considera as diferentes formas efetivas de se conscientizar os educandos sobre essas diferenças, ampliando seus recursos comunicativos e, consequentemente, possibilitando-lhes o acesso a múltiplos letramentos. Ela visa uma pedagogia formativa, transformativa e crítica (Pereira, 2008, p.17).

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