sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Consciência Fonológica – um reolhar sobre a aprendizagem - Márcia Regina Alves Gondim

Partindo da análise de pesquisadores da lingüística aplicada à
alfabetização, encontramos indispensável aporte teórico para se compreender a
importância de desenvolver na criança a consciência fonológica. Para Rivière
(apud CARVALHO, 2005, p. 28), consciência fonológica significa “a capacidade
de distinguir e manipular os sons constitutivos da língua”.
Antes do desenvolvimento da leitura, esse tipo de consciência já existe,
ainda que seja de modo mais ou menos grosseiro, e vai sendo reforçado ao
longo do processo de construção da leitura:
A consciência fonológica (...) não é uma capacidade plenamente
desenvolvida em todas as crianças. Sejam elas da pré-escola, ou mais
velhas: em geral, encaram as palavras como unidades e precisam de
significado, orientadas, ao longo do processo de alfabetização, para
perceber que as palavras têm uma dimensão sonora, isto é, são
formadas por sílabas e fonemas (CARVALHO, 2005, p.
28).
A autora registra, ainda, que a consciência fonológica tem uma relação
com métodos fônicos, pois estes enfatizam letras e sons, mas não se confunde
com eles. A consciência fonológica consiste na capacidade para focalizar os
sons da fala, independente do sentido. Há possibilidade de se definir o grau de
consciência fonológica da criança por meio de indicadores como a capacidade
de reconhecer o número de sílabas das palavras e de identificar características
sonoras como rimas e aliterações.
Para Adams et alii (2006, p. 17), a consciência fonológica é atualmente
um assunto de grande importância, pois “crianças que têm consciência de
fonemas avançam de forma mais produtiva e criativa para a escrita”. Para esses
autores “antes que possam ter qualquer compreensão do princípio alfabético, as
crianças devem entender que aqueles sons associados às letras são
precisamente os mesmos sons da fala.” Bem como a noção de que a linguagem
falada é composta de seqüências desses pequenos sons não surge de forma
fácil nos seres humanos.
As pequenas unidades da fala que correspondem às letras de um sistema
de escrita alfabética são chamadas de fonemas. A consciência da composição
de pequenos sons é denominada de “consciência fonêmica”. Para esses
pesquisadores (Adams et alii, 2006), “a consciência fonêmica escapa a cerca de
25% dos estudantes de primeira série do Ensino fundamental de classe média e
a uma quantidade consideravelmente maior daqueles de origens menos ricas
em termos de letramento” (ADAMS et alii, 2007, p. 19
).
Para os pesquisadores do CEALE (Magalhães, 2005), a consciência
fonológica representa “a habilidade de perceber a estrutura sonora de palavras,
ou de partes de palavras”. Rimas, aliterações, consciência sintática, silábica e
fonêmica são habilidades relacionadas à consciência fonológica. A consciência
fonêmica é um aspecto particular de consciência fonológica, consistindo na
habilidade de perceber a unidade mínima da fala (fonemas). Cada palavra é
formada por uma série de fonemas, representados na escrita pelas letras do
alfabeto, e a percepção desses é desenvolvida no processo de alfabetização. A
consciência fonêmica (última que a criança tende a adquirir) é a capacidade de
analisar os fonemas e de relacionar esses fonemas com as letras que os
representam.
Adams e outros pesquisadores (2006) afirmam que grande parte das
dificuldades de se desenvolver a consciência fonêmica deve-se à variação de
um determinado fone. Este tipo de variação recebe o nome de “alofones” de um
fonema. ‘”Em função de variações da língua, é difícil dizer quantos sons existem
no português brasileiro. Há cerca de 27 fonemas e três alofones, mas o número
de alofones varia de região para região” (ADAMS, et alii, 2006, 22). Os fonemas
não são pronunciados em unidades separadas, eles são co-articulados, ou seja,
quando falamos fundimos os fones em uma unidade silábica.
Dessa forma, o trabalho pedagógico precisa atentar-se para a
especificidade de atividades para que a crianças desenvolvam a consciência
fonológica, sendo levadas a perceber os fonemas, descobrindo suas existências
e a possibilidade de separá-los. Para desenvolver a consciência fonológica das
crianças torna-se necessário que os professores tenham conhecimento da
estrutura da língua, em especial da fonologia, da fonética e da fônica:
A fonologia é o estudo das regras inconscientes que comandam a
produção dos sons da fala, a fonética é o estudo da forma como os sons
da fala são articulados, e a fônica representa sistema pelo qual os
símbolos representam um sistema de escrita alfabética (ADAMS, et alii,
2006, p. 21).
Segundo esses autores (2006), os fonemas são unidades de fala
representadas pelas letras de uma língua alfabética e leitores em
desenvolvimento precisam aprender a separar esses sons uns dos outros e a
categorizá-los de forma que possam compreender como as palavras são
escritas. “É o nível fonêmico que estamos buscando, pois é a consciência dos
fonemas que possibilita às crianças entender como o alfabeto funciona – uma
compreensão que é fundamental para aprender a ler e a escrever”. (ADAMS, et
alii, 2006, p. 23)
Segundo Adams (2006), quando as crianças chegam à escola possuem
habilidades lingüísticas bastante desenvolvidas. Nas interações no cotidiano
escolar, as crianças concentram-se no significado e na mensagem daquilo que
está sendo dito, mas apesar da habilidade de falar e ouvir, as crianças não têm
qualquer conhecimento reflexivo das palavras, de suas partes e de como
combinam na linguagem oral. Torna-se necessário que, na prática de sala de
aula, a criança tenha oportunidade de vivenciar atividades de escuta. É preciso
que as crianças aprendam a ouvir de forma ativa e atenta, aprendendo a
analisar os sons que compõem a fala. Os autores propõem o trabalho com
rimas. “Ao direcionar a atenção das crianças para a estrutura sonora das
palavras, o jogo da rima promove sua consciência de que a fala não tem apenas
significado e mensagem, mas também uma forma.” (ADAMS, et alii, 2006, p. 35).
Nesse sentido, o jogo da rima pode, além de seu aspecto lúdico, contribuir para
o desenvolvimento da consciência fonológica:
A sensibilidade às rimas surge com bastante facilidade para a maioria
das crianças. Por isso, os jogos com rimas são uma excelente iniciação à
consciência fonológica. Por direcionar a atenção das crianças às
semelhanças e diferenças entre os sons das palavras, o jogo com rimas
é uma forma útil de alertá-las para a idéia de que a língua não tem
apenas significado e mensagem, mas também uma forma física (ADAMS,
et alii, 2006, p. 51).
Ainda, segundo esses autores, é preciso levar a criança a refletir sobre a
estrutura da língua, pois esses conhecimentos podem levá-las à compreensão
de nosso sistema de escrita. É indispensável que as crianças adquiriram noções
de letras, sílabas, palavras e frases, que podem ser realizadas através de jogos
orais. Depois que as crianças compreenderem que as frases são formadas por
palavras, torna-se necessário levar as crianças a perceber que as palavras são
formadas por unidades menores que se chamam sílabas como mostram jogos
verbais como a "língua do pê". Segundo ADAMS (et alii, 2006, p. 77):
Visto que, diferentemente das palavras, as sílabas não têm significado, é
provável que as crianças jamais as tenham notado ou refletido sobre
elas. Mesmo assim, as sucessivas sílabas da língua falada podem ser
ouvidas e sentidas: elas correspondem às pulsações de som de voz, bem
como aos ciclos de abertura e de fechamento das mandíbulas. Por essas
razões, a maioria das crianças considera os jogos com sílabas uma
novidade, difíceis o suficiente para serem interessantes, mas fáceis o
suficiente para serem fatíveis.
Torna-se necessário que as crianças tenham oportunidades de
compreender como funciona o princípio alfabético, entendendo que as palavras
são formadas de fonemas, as frases são formadas de palavras, as palavras, de
sílabas e as sílabas de fonemas. Para Adams et alii, (2006, p. 103) “ os
fonemas são mais difíceis para as crianças perceberem ou conceituarem do que
palavras ou sílabas”, pois os fonemas representam as menores unidades da
língua. Para as crianças torna-se difícil escutar durante a fala ou escuta normais,
pois os fonemas são difíceis de perceber, não possuem significado e os fones
representantes dos fonemas não podem ser diferenciados na fala e torna-se
“difícil para as crianças entender o que estão buscando ao escutar, mesmo
quando tentam” (ADAMs et alii, 2006, p. 103). Devido a essas dificuldades é
preciso levar a criança a sentir a forma como a boca abre e a posição da língua
de acordo com cada som.
As práticas de letramento no contexto escolar precisam contemplar, em
princípio, atividades orais para que as crianças pequenas desenvolvam uma
consciência fonológica que possam assegurar a construção de leitura e da
escrita, pois, para Adams e et alii, (2006, p. 123) “pouco adianta memorizar os
fonemas que correspondem às letras , a menos que se tenha antes entendido
que cada palavra é composta de uma seqüência de fonemas.” Para os autores
a consciência silábica é de grande importância para que as crianças
desenvolvam a consciência fonêmica.
O propósito de desenvolver a consciência fonêmica das crianças, fazêlas
entender esses insights lingüísticos, dos quais depende uma
compreensão produtiva do princípio alfabético. Como visto anteriormente,
as pessoas documentam de forma ampla que esse tipo de compreensão
resulta em crescimento da leitura e da escrita significativamente mais
eficiente para o grupo, bem como em uma redução bastante expressiva
na incidência de fracasso na aprendizagem da leitura.
Como vimos, a aprendizagem da leitura e da escrita é bastante complexa
demandando atividades significativas e contextualizadas que, de forma lúdica,
desenvolvam nas crianças uma consciência fonológica capaz de entrelaçar
alfabetização e letramento, em uma prática de alfabetizar-letrando de forma
que a criança seja levada a perceber os segmentos sonoros da língua (frases,
palavras, sílabas, fonemas) através de rimas, aliterações e jogos. Essas
atividades precisam iniciar de forma prazerosa através do processo de
oralidade para que a criança possa adquirir proficiência em sua competência
comunicativa, tanto oral quanto escrita.





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