sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CONSTRUINDO UMA PEDAGOGIA CULTURALMENTE SENSÍVEL - Márcia Regina Alves Gondim

Pesquisadores da área da sóciolingüística tecem também considerações
sobre o trabalho pedagógico realizado em sala de aula. Bortoni-Ricardo (2005,
p.192) defende que “é pedagogicamente incorreto usar a incidência do erro
para humilhar os alunos”.
Segundo Erickson (1987) uma “pedagogia culturalmente sensível” está
atenta à cultura que os alunos trazem de casa e à cultura da escola tornandose
necessário conscientizar os alunos sobre essas diferenças.
Bortoni-Ricardo (2005, p. 196) alerta para o fato de que no trato da
variação lingüística em sala de aula:
O professor precisa incluir dois componentes: identificação e
conscientização da diferenças. Para muitos professores regras do
português popular são invisíveis: o professor as tem em seu repertório e
não as percebe na linguagem do aluno”, deixando de identificá-las.
Quanto à conscientização, a autora (2005, p. 196) informa que é
necessário conscientizar o aluno com relação às diferenças “para que ele
possa monitorar seu próprio estilo”. Os professores devem realizar
intervenções de uma forma que não prejudique o processo ensinar/aprender. E
ainda, “à medida que os alunos desenvolvem hábitos lingüísticos para a prática
de eventos de letramento, podem transferir tais hábitos para tarefas
comunicativas de oralidade que pressupõem planejamento do discurso”. (op.
It.p.197)
Para Bortoni-Ricardo, (2001, p. 83) é preciso que o professor seja
sensível à oralidade da criança no contexto da sala de aula, “ratificando-a como
participante legítimo da interação, dando continuidade à contribuição do aluno,
elaborando-a e ampliando-a”.
No processo interativo em sala de aula, a ratificação consiste em tratar
o aluno como falante legítimo, que tem fácil acesso ao piso
convencional, que é ouvido com atenção e cujas contribuições são bem
sucedidas, aprovadas, expandidas no curso da interação.
Quanto ao papel do professor na ratificação do aluno encontramos o
processo de “scaffolding” ou “andaimagem” (BORTONI-RICARDO, 2005,
p.197): “termo metafórico usado para denominar o processo interativo por meio
do qual o professor, como parceiro mais competente, ajuda o aluno a construir
seu conhecimento.”
Desta forma “scaffolding” ou “andaimagem” refere-se ao auxílio que o
professor pode dar, visando à ampliação do campo conceitual da criança,
levando-a a novas construções, fazendo-a refletir sobre sua língua e as
diferenças que a cercam. É preciso que o professor se torne sensível às
diferenças, amparando, interferindo, tornando- se um parceiro como se fosse
um andaime em busca da construção do conhecimento, na perspectiva de uma
“pedagogia culturalmente sensível” (ERICKSON 1987).
Segundo Erickson (In: Bortoni-Ricardo, 2001, p. 82):
Uma pedagogia culturalmente sensível é um tipo de esforço especial
empreendido pela escola capaz de reduzir a dificuldade de
comunicação entre professores e alunos, desenvolver a confiança e
prevenir a Gênese de conflitos que rapidamente ultrapassam a
dificuldade comunicativa, transformando em amargas lutas de
identidade negativa entre alguns alunos e professores.
Dessa forma, a escola precisa tornar-se um espaço sensível onde o professor
possa aprender a lidar com as diferenças em sala de aula, respeitando a diversidade
social e lingüística das crianças buscando práticas de letramento que possam garantir
a aprendizagem dos alunos. E é através de uma pedagogia sensível que podemos
levar a criança a refletir sobre sua língua materna, seu processo de aprendizagem,
desenvolvendo uma consciência fonológica que possa auxiliar na construção das
competências comunicativas oral e escrita.

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