sábado, 26 de novembro de 2011

Diário de Bordo: Uma contribuição da professora Isabela Correa de Lima Ulian - Articuladora CRA- DRET

Taguatinga, 17 de novembro de 2011.

            Iniciamos o encontro com o preenchimento da avaliação solicitada pela EAPE. Enquanto os demais colegas iam chegando, foram apresentadas propostas para o encerramento do curso, pois além do evento do dia 24/11, necessitaríamos de mais uma aula para concluir os fascículos. Após algumas sugestões e ponderações, a Márcia sugeriu que o planejamento do dia fosse condensado para contemplar os assuntos pendentes, abordando assim, o fascículo 6 – “O Livro Didático em Sala de Aula” e o fascículo complementar. No dia 08/12, teremos ainda a oportunidade de estar com a professora Stella Maris Bortoni, no CED 07.
            Para iniciarmos o estudo, algumas experiências com o livro didático foram relatadas, pontos positivos e negativos ressaltados. As argumentações foram semelhantes às descritas na unidade I do fascículo 6, bem como às apresentadas no vídeo a que assistimos posteriormente. Algumas colegas professoras utilizam o livro somente como um apoio, se valendo de outros materiais. Outras usam um livro específico, mas retiram atividades de diferentes livros e outras não o utilizam por acharem descontextualizado.
            Dando continuidade à discussão, atividades da cartilha “Caminho Suave”, bem familiares a nós, foram apresentadas em slides como atividades do antigo “período preparatório”. Refletimos sobre a natureza mecânica e repetitiva do conjunto de atividades presentes nas cartilhas tradicionais, com seus “pseudotextos”. Essas cartilhas revelam a teoria de aprendizagem que está por trás dos métodos tradicionais, pressupondo que o aluno aprende de forma passiva, memorizando pela repetição letras, fonemas e sílabas, sem nenhuma reflexão sobre as palavras e suas propriedades, impedindo a convivência com a linguagem própria dos gêneros escritos que circulam socialmente.
            Hoje, porém há uma nova concepção relacionada ao ensino da Língua Portuguesa e da Alfabetização. Mudanças nas práticas dos professores passaram a ser exigidas e o livro didático não pode ser um material de regulação da prática docente e sim um instrumento auxiliar da organização do trabalho. Nos atuais livros didáticos de alfabetização vemos uma busca de apropriação do conceito de letramento e de suas implicações na alfabetização, com a presença tanto de textos curtos como longos de diferentes gêneros. O ensino do sistema de escrita alfabética tende a não ser mais entendido como o ensino para a “codificação” e a “decodificação".
            Com o PNLD, os livros didáticos inscritos são submetidos a um trabalho de análise e avaliação pedagógica, recebem uma menção disponibilizada no Guia de Livros Didáticos, que orienta a escolha do livro pelo professor. Algumas lacunas são percebidas nos livros didáticos de alfabetização, cabendo ao professor saber como usá-los, para garantir que os alunos se alfabetizem na perspectiva do letramento. Independente das restrições é um suporte básico na organização do trabalho pedagógico e muitas vezes, constitui o principal material escrito manuseado e lido de forma sistemática por algumas crianças.
            Por ocupar significativo espaço na cultura escolar brasileira, é fundamental que o livro didático de Língua Portuguesa continue a ser descrito, debatido e avaliado, como forma de contribuição à melhoria de sua qualidade. E essa qualidade é muito mais complexa do que tem sido considerada, pois as avaliações não dão conta dos descompassos existentes entre teorias mais atualizadas sobre o ensino da leitura e da escrita e a realidade das práticas de ensino existentes nas diferentes localidades brasileiras. Não se pode perder de vista que a qualidade de um livro didático vai depender em grande parte das necessidades dos professores e de seus alunos; da capacidade da obra em oferecer subsídios e alternativas produtivas ao trabalho escolar; da concepção de língua nela explicitada, entre outros aspectos.
            O professor Artur Gomes de Morais sintetiza muito bem a reflexão sobre todo esse processo que envolve o livro didático, quando diz que a democratização não pode se deter somente à escolha, é necessário que se socialize as práticas que se faz com o livro. A prática é resultado da formação que se tem.
            De fato a formação docente é um fator determinante na qualidade de ensino. Muito se tem discutido sobre a formação continuada. Sem dúvida, útil e necessária. Porém, há de se olhar com mais cuidado para a formação inicial. A respeito, compartilho o trecho de um artigo escrito por Carlos Henrique Araujo, hoje secretário executivo da ONG Missão Criança, e ex-diretor de avaliação da educação básica do INEP, com a colaboração de Nildo Luzio:
            “Muito se tem discutido sobre a denominada formação continuada. De fato, se a entendermos como a necessária atualização dos docentes frente aos avanços do conhecimento, no campo da tecnologia educacional, dos métodos didáticos e em outras áreas, concluiremos que a oportunização da formação continuada é útil e necessária. Contudo, parece que no Brasil, dos últimos anos, a formação continuada foi erigida como a solução para os males de origem, ou seja, a má formação inicial.
            Resolver os problemas estruturais da formação inicial garantirá resultados muito mais efetivos para transformação da educação básica no Brasil do que a versão da formação continuada para tapar buracos.
            Na formação inicial, do Brasil, são cometidos alguns pecados mortais. Os currículos são muito generalistas e teóricos e pouco voltados às necessidades com as quais os profissionais irão lidar em sua prática docente. Em geral, o futuro professor tem poucas horas de prática docente, pouco contato com a realidade de sala de aula, pouco ou nenhuma interação com os docentes mais experientes. Enfim, o jovem professor pouco ou quase nada se dedica a fazer, na prática, aquilo que lhe será exigido no cotidiano de uma sala de aula.
            Muitas vezes, os futuros docentes passam pela licenciatura sem conhecer as orientações curriculares nacionais e os currículos do Estado ou município onde irá trabalhar. Muitos não têm a oportunidade de conhecer a fundo os livros didáticos de sua área, especialmente aqueles adquiridos pelo Ministério da Educação e distribuídos nas escolas públicas. Não se pode desprezar, como é em geral o que acontece, o necessário conhecimento do licenciado sobre as opções existentes e, ainda mais, sobre as formas de potencializar o uso do livro didático na rotina pedagógica.”

            Para terminar, assistimos a um vídeo com cenas de práticas de sala de aula, que nos permitiram refletir sobre os conteúdos trabalhados e a articulação entre teoria e prática, bem como sobre questões relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem da língua escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
            Por trás de toda prática pedagógica há uma concepção que a sustenta. O trabalho de ensino e aprendizagem da língua proposto neste curso está fundamentado na concepção interacionista, que assume a linguagem em sua função discursiva e que entende a alfabetização como apropriação do sistema alfabético de escrita, para uso em práticas sociais de leitura e escrita. Esse entendimento é essencial para o repensar da prática, seu aperfeiçoamento e efetivação.
  
Isabela Correa de Lima Ulian

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