sábado, 16 de julho de 2011

Algumas Regras Variáveis do Português Brasileiro -



TRAÇOS GRADUAIS*
Aférese ou supressão de um ou mais fonemas iniciais
está > tá; estava > tava; você > cê
Síncope ou supressão de um fonema no interior da palavra
para > pra; xícara > xicra
Apócope ou supressão de um fonema final, como o  /r/
correr > corrê; almoçar>almoçá; senhor > senhô
Epêntese ou adição de um fonema no interior da palavra
ritmo > ritimo; decepção > decepição
Ditongação das vogais "a" e "e", seguidas do fonema /s/
Goiás > Goais; faz > faiz; vez > veiz
Formação de grupos de força
de repente > derepente; por isso > porisso
Monotongação do ditongo nasal "ão" na palavra ‘não’, que aparece em posição átona no grupo de força
não é > num é; não tem > num tem
Supressão /s/
nós fazemos > nós fazemu
Elevação da vogal /e/ para /i/
azeite > azeiti; leite > leiti
Elevação da vogal /o/ para /u/ 
comeu > cumeu; quando > quandu
Monotongação de ditongos orais decrescentes
ouro > oro; beijo > bejo; caixa > caxa
TRAÇOS DESCONTÍNUOS*
Prótese ou adição de um fonema no início da palavra
levantar > alevantar
Epêntese ou adição de um fonema no interior da palavra ou hipercorreção
bandeja > bandeija; caranguejo > carangueijo
Síncope ou supressão de um fonema no interior da palavra
número > numru; lâmpada > lãpda; porque > puque
Metátese ou troca de posição de um fonema para melhor acomodação eufônica
estupro > estrupo; muçulmano > mulçumano
Rotacismo ou neutralização -  /l/ > /r/
planta  >  pranta; bloco > broco; alto > arto
Lambdacismo ou neutralização - /r/ > /l/
garfo > galfo
Supressão do /l/ em palavras oxítonas
carnaval > carnavá
Desnasalização de sílabas finais
homem > homi; fizeram > fizeru
Nasalização de sílabas iniciais
identidade > indentidade
Assimilação de um fonema sobre o outro
falando > falanu; também > tamém
Supressão do ditongo crescente oral na sílaba final
meio > mei; veio > vei;
Uso do morfema (-im), em substituição a (-inho)
geladinho > geladim, beijinho > beijim
Concordância não-redundante, tanto nominal quanto verbal
nós estávamos > nóis tava; nas bicicletas > nas bicicleta
Vocalização da consoante lateral palatal /lh/ ou despalatalização
mulher > muié; velho > véio; galho > gaio


* De acordo com Bortoni-Ricardo (1998), ao propor os contínuos para análise do português brasileiro, os traços graduais da linguagem estão presentes na fala de todos os brasileiros e, portanto, se distribuem ao longo de todo o contínuo de urbanização. Enquanto os traços descontínuos são próprios dos falares situados no pólo rural e vão desaparecendo à medida que se aproximam do pólo urbano. Ou seja, seu uso é descontinuado nas áreas urbanas, recebendo, dessa forma, maior carga de avaliação negativa das comunidades urbanas. É preciso levar em consideração que, no contínuo de urbanização, não existem fronteiras rígidas que separem falares rurais, rurbanos ou urbanos. Para aprofundamento dessa questão, sugerimos a leitura do livro Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula de Stella Maris Bortoni-Ricardo, publicado pela Editora Parábola em 2004.

3 comentários:

  1. Contribuições valiosíssimas a desse quadro. Na verdade, ao identificarmos as regras podemos observar que elas fazem parte do cotidiano da sala de aula, seja na oralidade ou na escrita. E, não só lá, mas também em outros espaços. Esse quadro nos ajuda a ampliar nossos conceitos em relação ao trabalho com a ortografia, além de conduzir melhor nosso olhar sobre variação linguística.
    Abraços, Elissandra

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  2. Querida,
    Quando percebemos a relação entre os modos de falar e os modos de escrever podemos identificar as "transgressões ortográficas" realizadas por nossos alunos, em suas produções escritas, e assim encontrarmos caminhos para que possamos intervir no processo de aprendizagem e construção da competência comunicativa escrita. Assim poderemos pensar nas práticas de letramento como forma de ascensão social. bjs no coração
    Mar

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